ESTADO HOMENAGEIA PROFESSORES DE ALUNOS QUE NÃO PODEM IR À ESCOLA

Atualmente são 97 os professores e pedagogos que atuam fora da sala de aula na Secretaria da Educação do Paraná

Há pessoas que nascem com o  dom de ensinar, orientar, conduzir. Fernando Schinimann é um professor que há quatro anos dedica suas tardes ao ensino de alunos que não podem se locomover até a escola. O local da aula pode ser em uma sala, quarto ou mesmo um leito de hospital. Neste Dia do Professor, a Secretaria da Educação do Paraná (Seed-PR) presta homenagem aos mestres que, como ele, transformam a profissão em uma verdadeira missão de ensinar.

Na rede estadual de Educação desde 2014, este professor de História boa gente, formado em escola e universidade públicas, fez doutorado na França em História Africana, Povos e Migrações. Com um histórico escolar recheado de notas dez em dedicação e disposição, atualmente se divide entre o curso técnico de Desenvolvimento de Sistemas do Colégio Estadual Marli Queiroz Azevedo, em Curitiba, e a dedicação a oito alunos com comorbidades cardíacas, respiratórias, motoras, problemas de cognição, autismo  e má formação genética.

Esses estudantes estão cadastrados no Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar (Sareh), da secretaria estadual da Educação. Anualmente, o Sareh garante que centenas de jovens mantenham as suas atividades educacionais, seja a partir de seus domicílios ou de instalações hospitalares.

“Tanto na rede regular como no Sareh foi possível criar laços importantes e duradouros com as várias comunidades onde atuei, além do imenso carinho que tenho por todos os estudantes, os que estão em sala de aula e os que passam por tratamento hospitalar e domiciliar”, afirma Fernando Schinimann, de 61 anos de idade e mais de 30 de carreira.

Um dos alunos do professor Fernando é Chrystofer, que surpreende o docente todos os dias. Ele já passou por 36 cirurgias, mas é definido por Schinimann como um jovem que fala com os olhos e tem grande alegria em viver e aprender, e que aprende um pouquinho todos os dias. “Mesmo sem poder falar, ter baixa visão e audição e não conseguir se locomover, a cada novo encontro de estudos ele está sempre feliz.”

Outro aluno chegou a ficar internado por um período de dois anos. Ele tem uma má formação cardíaca e pulmonar, condição que acabou lhe causando sequelas na fala, na expressão e linguagem verbal, dificuldades de raciocínio lógico matemático e baixa visão. “O improvável é que ele é uma pessoa com demonstrações de carinho inigualáveis, o que me emociona e me motiva a continuar”, revela o professor.

Os gêmeos de 17 anos, portadores de osteogênese, a chamada doença dos “ossos de vidro”, com risco ampliado de sofrer fraturas, também são alunos do professor Schinimann. Devido à condição, não podem conviver em ambiente escolar. 

“Se eu for classificá-los, têm inteligência acima da média. São dedicados, educados e têm belos projetos para a continuidade da vida, mesmo com suas dificuldades de crescimento, fraturas e o isolamento social”,  afirma o professor.  “O mesmo vale para outro aluno, com autismo que, mesmo sem ir à escola por fobia social, é de uma inteligência brilhante”.

EQUILÍBRIO –  Lecionar de segunda-feira a sexta-feira percorrendo grandes distâncias entre Curitiba e municípios da região, e se deparando com histórias de superação diárias exige tempo, dedicação, estudo, busca por formação constante, firmeza e equilíbrio emocional.

Para isso, o professor Fernando Schinimann conta com o apoio dos responsáveis pelo programa Sareh, das direções das escolas, equipes pedagógicas e dos professores dos componentes curriculares que são ministrados nas turmas, nas  quais os estudantes em atendimento hospitalar ou domiciliar estão matriculados. 

“É difícil lidar com a dor e a frustração quando ocorre uma perda de aluno durante o processo, porque nós, professores, nos envolvemos com as famílias. É doloroso, precisamos e recebemos  muito apoio nestes momentos”, descreve.

SEMPRE O MELHOR – As aulas ministradas em casa ou em hospitais envolvem todas as disciplinas e o atendimento exige profissionalismo e comprometimento. Afinal, o estudante precisa contar com o melhor desempenho por parte dos  professores. “A eles, procuramos oferecer aulas com qualidade, da mesma forma do que é ofertado aos que frequentam a escola de maneira presencial. Isso se resume em boas palavras, boa convivência, ensino de qualidade, uso de tecnologias, plataformas e projetos”, diz o professor Fernando.

O “profe” Fernando conta que, apesar da rotina desgastante no trânsito, das longas distâncias e da correria, a cada novo encontro ele experimenta a satisfação e a confirmação de que está no caminho certo. “Meus estudantes são jovens que também sonham e representam sim parte do futuro brasileiro, independentemente da condição. Por isso, busco dar a eles autonomia para que possam chegar o mais longe que puderem”,  finaliza. 

PROGRAMA – O Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar foi implantado com o objetivo de prestar atendimento educacional público aos estudantes matriculados na educação básica (dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio) da rede estadual, que estejam impossibilitados de frequentar as aulas por motivo de tratamento de saúde, permitindo a continuidade do processo de escolarização, a inserção ou a reinserção em seu ambiente escolar. 

Atuam no atendimento aos alunos 97 professores e pedagogos. Em 2024, de janeiro até 15 de outubro, foram feitos 7.929 atendimentos hospitalar e 728 domiciliares. 

Para pais ou responsáveis cujos filhos estejam impossibilitados de frequentar a escola por problemas de saúde e que desejem atendimento via Sareh, o primeiro passo é apresentar, na escola em que o aluno é matriculado, o atestado médico que determine afastamento por período superior a 90 dias. Com o documento, o aluno é registrado para o atendimento pedagógico e os professores disponíveis são contatados para atendimento.

Publicado em 15 de outubro de 2024 às 18:28

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