CRISE DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL: MAIS DE 470 MIL AFASTAMENTOS POR TRANSTORNOS MENTAIS EM 2024

Em 2024, o Brasil registrou mais de 470 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais, o maior número em uma década. Esses dados, obtidos a partir das informações do Ministério da Previdência Social, demonstram não só o agravamento de um problema que já vinha se intensificando, mas também os enormes impactos sociais e econômicos decorrentes do adoecimento psíquico dos trabalhadores.

DADOS E IMPACTOS ESTATÍSTICOS

Segundo as estatísticas divulgadas, os trabalhadores afastados permanecem, em média, três meses sem exercer suas atividades, recebendo cerca de R$ 1,9 mil mensais. Esse cenário gera um impacto financeiro que pode chegar a quase R$ 3 bilhões só em 2024, sem contar os prejuízos indiretos como a perda de produtividade e o aumento do absenteísmo. Ademais, o número de afastamentos, que cresceu 68% em relação ao ano anterior, representa a terceira maior causa de licenças médicas, ultrapassando dados registrados desde 2014.

PERFIL DOS AFASTADOS E CONSEQUÊNCIAS PARA OS TRABALHADORES

A análise dos dados revela que 64% dos afastamentos são registrados por mulheres, cuja idade média gira em torno dos 41 anos. Essa predominância evidencia fatores sociais que ampliam a vulnerabilidade – como a sobrecarga de trabalho, a dupla jornada e a pressão para conciliar as responsabilidades profissionais com as domésticas. Tais condições, muitas vezes agravadas pelos resquícios dos efeitos da pandemia, têm contribuído para quadros de ansiedade, depressão e outros transtornos relacionados à saúde mental.

Para os trabalhadores, o impacto vai além do sofrimento individual. O estigma associado à busca por ajuda e o receio de represálias podem levar à subnotificação dos casos, ocultando a real dimensão do problema e dificultando a implementação de políticas de suporte adequadas.

IMPACTO ECONÔMICO E NAS EMPRESAS

Do ponto de vista econômico, o alto índice de afastamentos gera custos diretos – com o pagamento dos benefícios – e indiretos, por meio da queda na produtividade e do aumento dos índices de rotatividade. Empresas que não adotam medidas preventivas tendem a enfrentar custos elevados com absenteísmo e, consequentemente, a uma piora do clima organizacional. Por outro lado, organizações que investem em ambientes de trabalho saudáveis e em programas de suporte à saúde mental conseguem reduzir essas perdas, tornando-se mais competitivas e atraentes no mercado.

MEDIDAS GOVERNAMENTAIS E A ATUALIZAÇÃO DA NR-1

Para enfrentar esse cenário alarmante, o governo intensificou suas ações. Uma das principais iniciativas foi a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), cuja nova redação – publicada em agosto de 2024 – passa a exigir que as empresas incluam, de forma obrigatória, a identificação, avaliação e mitigação dos riscos psicossociais no âmbito do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Entre esses riscos estão fatores como metas excessivas, jornadas extensas, assédio moral e falta de suporte emocional.

Viviane Forte, coordenadora-geral de Fiscalização em Segurança e Saúde no Trabalho, afirma:

“A atualização da NR-1 é um passo essencial para combater os efeitos devastadores da sobrecarga emocional no ambiente de trabalho. Agora, os empregadores precisam implementar planos de ação que incluam medidas preventivas e corretivas, com monitoramento contínuo das condições psicológicas dos colaboradores.”

Além disso, o governo intensificou a fiscalização, com auditorias direcionadas a setores de alto risco – como teleatendimento, bancos e estabelecimentos de saúde – onde os índices de adoecimento mental se destacam. Essas ações visam não apenas a correção de falhas, mas também incentivar uma mudança cultural dentro das organizações, que passem a encarar a saúde mental como prioridade estratégica.

DEBATE E POLÍTICAS PÚBLICAS

Especialistas ressaltam a urgência de políticas públicas integradas para enfrentar a crise. Pesquisadores da área destacam que os transtornos mentais estão intimamente ligados a condições de trabalho insalubres e à falta de reconhecimento do esforço dos trabalhadores. A criação de programas que promovam a saúde mental, como o Certificado de Empresa Promotora da Saúde Mental (instituído pela Lei nº 14.831/2024), pode servir como um diferencial competitivo e um incentivo para que mais empresas adotem práticas saudáveis.

Em fóruns e reuniões com representantes de sindicatos e do governo, também se discutiu a importância de campanhas de conscientização e de espaços seguros para denúncia e suporte psicológico. Esses debates apontam para a necessidade de um esforço conjunto entre o setor público, as empresas e a sociedade para mitigar os impactos e promover a prevenção dos transtornos mentais.

DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Apesar dos avanços regulatórios, o desafio permanece: é preciso transformar as medidas legais em práticas concretas que realmente protejam a saúde mental dos trabalhadores. Isso implica não só o cumprimento das normas, mas também uma mudança profunda na cultura organizacional, com ênfase no bem-estar, na promoção de um ambiente de trabalho equilibrado e na valorização do capital humano.

Enquanto o governo trabalha para adaptar a fiscalização e implementar novas políticas, as empresas têm a oportunidade – e a responsabilidade – de se anteciparem a essa tendência, investindo em treinamento de gestores, na criação de canais de apoio e na revisão das práticas de trabalho.

Os dados de 2024 revelam uma crise que vai muito além dos números: eles contam a história de trabalhadores que enfrentam condições cada vez mais desafiadoras e de empresas que, sem políticas adequadas, podem sofrer sérias consequências econômicas e reputacionais. A atualização da NR-1 e o reforço na fiscalização representam um importante passo na direção de ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis. No entanto, a verdadeira transformação dependerá do compromisso de todos – governo, empresas e sociedade – em promover a saúde mental como um direito fundamental e uma prioridade estratégica.


Fonte: gov.br

Publicado em 10 de março de 2025 às 09:56

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